Por: Geovanna Teixeira
Pediram
para chegar duas horas antes de a cerimônia ter início, mas a ansiedade que me
acompanha desde que nasci aflorou de um jeito ímpar e quatro horas antes peguei
o metrô na Estação Cardeal Arcoverde. A atmosfera que senti na fila para
comprar o ticket e chegar à estação 2 já
era uma prévia calorosa do que eu iria sentir naquela noite, e que noite! Os
portões abriram às 17h e até o evento ter início observei ao máximo que pude
quem estava ao meu redor. Tantos rostos diferentes, vestimentas típicas de
regiões que provavelmente nunca poderia visita-los e a alegria estampada na
feição de todos os sortudos que representavam o mundo inteiro ali.
Ao meu lado esquerdo sentou-se um casal de americanos e mais a baixo vi alguns mulçumanos, de que nação eles pertencem não pude identificar, mas pelos dizeres na bandeira deduzi que são asiáticos. Poucas fileiras de distância separavam universos tão conflitantes entre si e que nunca estiveram tão unidos como naquela noite desportiva.
O relógio no centro do gramado anunciava que daqui a poucos instantes o mundo iria conhecer o melhor do Brasil. Dito e feito. Todas luzes foram apagadas e então teve início a tão aguardada cerimônia de abertura dos jogos Olímpicos Rio 2016. Nosso país, o maior da América do Sul e considerado como o pulmão do mundo, graças à floresta Amazônica, tinha como missão usar de um evento tão grande para propagar uma mensagem de amor ao que nos foi dado gratuitamente pela natureza e a preservação para as próximas gerações e tudo isso foi abordado com muita maestria.
O
mundo conheceu um pouco da nossa história e sobre a nossa miscigenação. Do
descobrimento pelos portugueses, passando pela vergonhosa escravidão até a
chegada dos árabes para nos trazer ares comerciais. A nossa música foi
muitíssimo bem representada e deixou todos da arquibancada eufóricos! Quem
criticou os cantores que foram anunciados para participar da cerimônia certamente
morderam a língua. Não tem como imaginar que algo de ruim aconteça quando
Caetano e Gil estão juntos. Eu adorei e quem os gringos que não conhecia a
Anitta e Ludmila também adoraram.
Ao
longo da cerimônia ouvia dizeres das pessoas que estavam próximas em mais
idiomas que eu pensei que pudessem existir na face da terra e comprovei que
todos eles de fato existiam quando as delegações começaram a desfilar. Algumas
numerosas e competitivas, como a do Canadá, outras minúsculas, porém felizes
por fazer parte daquele momento único, como a da Suazilândia, com apenas dois
atletas.
Um dos ápices da festa, sem sombra de dúvidas, foi quando a delegação brasileira apareceu. Senti um orgulho sem igual. Arrepiou até a minha alma. Emoção pura. A pernambucana Yane Marque trazia a bandeira que representava toda a nação brasileira e atrás dela estavam as nossas apostas de medalhas. Todos felizes por viver aquele momento, registrando ao máximo que podiam em seus celulares. Talvez jamais sintam o que vivenciaram durante a caminhada até o meio do Maracanã, mesmo participando de outras olimpíadas, jamais serão tão aclamados como foram aqui, em casa.
Após
os discursos das autoridades, a tocha olímpica passaria nas mãos dos últimos
condutores no Brasil. Desde o início do revezamento foram 12 mil pessoas
carregando o fogo que marca a igualdade entre os povos e o amor (que deveria
existir) entre as nações. Gustavo Kuerten, o nosso Guga, foi quem adentrou no
templo sagrado do futebol com a tocha na mão e passou para a rainha Hortência
dar suas passadas rumo a quem iria acender a pira olímpica. Quando todos achavam
que a festa não tinha como surpreender mais ainda, e que Pelé fosse aparecer,
ainda que na cadeira de rodas para acender a pira, eis que surge ex - maratonista
Vanderlei Cordeiro de Lima, que sofreu um ataque durante os jogos de Atenas em
2004. Todos os brasileiros se sentiram representados por ele.
Com
a pira acesa, os fogos anunciavam que os jogos estavam abertos. Todos que
estavam no Maracanã carregarão para sempre aquela noite memorável e que
provavelmente não conseguiram dormir de noite tamanho êxtase. A volta para
casa, de metrô foi tão emocionante como a ida. Todos comentavam, na linguagem
universal dos esportes, a felicidade de fazer parte daquele momento e o quão
todos estavam orgulhosos. Se tem uma coisa que brasileiro sabe fazer e bem é
festa, disso ninguém pode duvidar.